A turbulência política que envolveu o governo do presidente Jair Bolsonaro não mudou radicalmente o otimismo dos investidores com relação às chances de aprovação da reforma da Previdência ainda neste ano nem do impacto fiscal esperado para a versão final do texto. Mas têm levado mais profissionais do mercado financeiro a acreditar que a proposta levará mais tempo para ser analisada pelo Congresso.
Esse sentimento foi captado por um sondagem feita pela XP Investimentos. Segundo o levantamento, que ouviu 104 investidores institucionais (público formado por gestores de recursos, economistas e consultores) entre os dias 3 e 5 de abril, a probabilidade atribuída à aprovação da reforma é de 80%, mesmo percentual registrado em março.
A expectativa média de economia gerada em dez anos com a proposta é de R$ 700 bilhões, o que representa uma desidratação de R$ 465 bilhões da versão original e R$ 300 bilhões em relação ao objetivo apontado pelo ministro Paulo Guedes (Economia) para o início de uma transição para o regime de capitalização. O número é o mesmo de um mês atrás.
Para a maioria dos investidores entrevistados (61%), a reforma previdenciária só será aprovada no plenário da Câmara dos Deputados no segundo semestre, após o recesso parlamentar de julho. Em fevereiro, 59% acreditavam que o fim da tramitação aconteceria até o meio do ano, em linha com o que projeta o governo.
Desta forma, cresceram as apostas de que a conclusão de todas as votações da PEC nas duas casas legislativas ocorra apenas no quarto trimestre. Vale lembrar que, por se tratar de emenda constitucional, é necessário que o texto passe por dois turnos de votação no plenário de cada casa, com necessidade de apoio mínimo de 3/5 dos parlamentares (308 deputados e 49 senadores) – isso depois de passar pelas respectivas comissões.
Na ponta do lápis
Os investidores também foram ouvidos sobre as projeções para os principais indicadores do mercado dependendo do futuro da reforma. Se o texto for aprovado tal qual apresentado pelo governo, as expectativas são de que o dólar caia para R$ 3,50 (10% em comparação com o atual patamar), a taxa Selic vá para 6% ao ano (corte de 25 pontos-base) e o Ibovespa chegue a 120 mil pontos (alta de 24%).
Tal possibilidade, contudo, é considerada remota. No meio político, a retirada de mudanças nas regras para a concessão do BPC (Benefício de Prestação Continuada), pago a idosos e deficientes de baixa renda, e das aposentadorias rurais já é dada como certa. Além disso, o fato de o governo ter encaminhado um texto mais brando para os militares provocou uma redução na expectativa de economia de R$ 81,9 bilhões em dez anos.
Caso seja aprovada uma reforma com impacto fiscal de R$ 580 bilhões, os investidores projetam dólar a R$ 3,75 (queda de 3%), Selic estável a 6,5% e Ibovespa a 105 mil pontos (alta de 8%).
Fim da ‘lua de mel’
A despeito da manutenção da confiança na aprovação da reforma da Previdência no parlamento, o levantamento captou uma drástica mudança no humor dos investidores em relação ao governo Bolsonaro. Próximo de completar 100 dias no cargo, o presidente Jair Bolsonaro agora conta com apenas 28% de avaliações positivas (“ótimo” ou “bom”).
O resultado corresponde a uma queda de 42 pontos percentuais em comparação com fevereiro e 58 p.p. ante janeiro. Já as avaliações negativas (“ruim” ou “péssimo”) saltaram de 1% para 24% de janeiro para cá.
Deterioração também se observa nas expectativas do mercado com o futuro do governo. Neste caso, as expectativas recuaram de 86% em janeiro e fevereiro para 60% em abril. Já as projeções negativas subiram de 2% em fevereiro para atuais 13%. O nível regular, por sua vez, chegou a 28%, 16 p.p. a mais do que no levantamento anterior.
O mau humor dos investidores com a política também se reflete nas avaliações sobre o Congresso Nacional. Segundo a sondagem da XP, 40% consideram a instituição ruim ou péssima, ante 21% registrados no mês anterior. Em dezembro, porém, o número estava em 63%. Já os que avaliam o parlamento como ótimo ou bom agora somam 15%, 2 p.p. a mais do que o resultado de dezembro e metade do registrado em fevereiro.
Fonte: InfoMoney